Conheça os projetos da "Palavra Desenhada"

Letrívoras

Projeto da Palavra Desenhada- produção e processos em escrita literária.
Resenhas, prosas, poesias e devocionais.
Acompanhem! (desde janeiro.2015 até agora)
Toda honra e glória a Deus. Venha o Teu Reino, volta logo, Jesus!

terça-feira, 21 de junho de 2016

As viagens para dentro de si...



Tem muita gente que viaja. Mas as grandes quantidades de mapas, desenhos e caminhos não alcançam  o universo que há dentro de nós

Cada um carrega um mapa interno. São desenhos com fronteiras, torres de vigia, e até mananciais de muita fartura a serem descobertos. Mas há também, lugares áridos. E todos estes ambientes nos são necessários, porque temos dentro de nós um bioma interno.

Mas muitos não viajam pra dentro de si, fazem apenas a viagem pra fora. Sem se encontrar, vão se procurado para fora, até ficarem mais e mais distantes de si.

Viajar é bom, e eu quero ainda conhecer o mundo inteiro, mas de nada adianta se não entender, aos poucos, meu universo.

Esta caminhada é diária, feita sem pressa, até decifrar aos poucos o desenho de meu mapa interior.

Tenho universos escondidos, espaços ainda a serem descobertos e que serão deliciosamente explorados. Viver para dentro de mim sempre será minha melhor viagem.

Juliana Bumbeer




segunda-feira, 13 de junho de 2016

Os engolidores de vento


Até nossos vazios estão carregados de eternidades. Continuo a insistir nesse momento em que vivemos esfomeados de tempo, mas engolindo os tempos, deixando-nos na falta do tempo.

Há muitos momentos engolidos pelo vazio, e a lógica maligna é nos tornar sem foco, desconcentrados e confusos. A dispersão tem nos tornado seres superficiais, mas ainda assim, buscando a aparência de eternidade. Nunca houve tantas eternidades instantâneas como hoje.

Lembro-me do meu professor de filosofia antiga da UFPR falando que haverá um tempo em que não saberemos o que fazer com o mundo virtual. Creio que este tempo já chegou, e ficamos dispersos, angustiados e cheios desta aparente realidade que além de não nos alimentar, nos faz desaprender a lidar com o pouco de tempo que temos. Nossa complexidade não se encaixa nesta aparência, o virtual não consegue nos alcançar, embora pareçamos sempre irmãos.

O discurso do ser no ter, a proposta e a aparência. Somos o que parecemos, mesmo que com bons discursos. Entramos num momento em que todos tem algo a dizer, tornamo-nos politicamente corretos, mas com uma essência incoerente. Falamos de leituras, mas muitos mal leem. De amores, mas o que importa é mostrar-se mais feliz que o outro. Satisfeitos pelo ser, mas apenas se utilizando do discurso do ser, que por mais belo que seja não satisfaz o que realmente somos.

É vento, palavras e distrações, somos engolidores de ventos, mesmo que carregamos do discurso do ser. 

As aparências estão carregadas de eternidades que só satisfazem nosso instante. No próximo momento, uma nova eternidade precisa ser construída, bem discursada, engolida. E assim caminhamos, carregamos de aparentes e instantâneas eternidades.




domingo, 12 de junho de 2016

Quer namorar consigo?



Quando se fala em namoro e dia dos namorados, geralmente nos remetemos ao outro, ou ao casal. 

Mas agora quero falar do “um”, daquele que precisa todos dias se reencontrar e se reconhecer.  
Para namorar, preciso namorar antes de tudo, comigo mesma...

Entender quem sou,
gostar do que vejo no espelho.

Ser capaz de brigar e reconciliar-me,
perdoar-me, permitir-se,
sabendo porém que esta permissão não me tornará permissiva.

Olhar com mais serenidade e rir dos meus defeitos,
das minhas sobras, gordas ou magras, exageradas ou contidas.

Ter a vontade, não egocêntrica, mas equilibrada
em dizer para esta de diante do espelho, de dentro e de fora: “eu me pegava”!

De ser capaz de me apaixonar por mim mesma
e de que valho a pena ser amada.

Que meu amor tem dores e alegrias capazes
de tornar alguém melhor do que já é
e de posso melhorar-me ao me doar a este amor.

De que tenho também a capacidade em ficar sozinha
e gostar de estar comigo neste tempo,
e até mesmo dizer: “não posso viver sem mim!”

Em ter a generosidade de repartir-me com um alguém
que também me faça multiplicada.

Ter alguém não para me tirar da solidão
mas me deixar ainda melhor em minha solitude.

De olhar para este dia dos namorados e
valorizar-me, amar-me, apaixonar-me.
a ponto de dizer para mim mesma: “eu te amo, quer mais uma vez namorar comigo"?

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Cristianismo leproso

Caminho pelas ruas,
estou invadida pelos leprosos,
 mas a lepra da minha alma
não me permite percebê-los.

Tenho uma lepra esfomeada,
coço e como estas feridas do coração.

Não sinto mais dor, sinto fome
em ferir e despedaçar os outros
enquanto me corto com cacos de vidro.

Feridas da alma que me rasgam
 guardo estas lembranças em cacos,
 pedaços lambidos, coçados,
 sangra por toda a lepra do meu coração.

Eu estou em pedaços, desfigurada,
 não sinto mais minha doença,
já amortecida meus olhos não veem
os leprosos de hoje que sangram corações.

Escolho me coçar com os estilhaços dos outros,
 ressuscito estas mortes egoístas,
nego a ressurreição de Cristo em mim.  

Nego a cura dos leprosos que em chamas,
clamam pela água do espírito que há na minha boca.
Mas minha saliva foi contaminada,
vomita um sangue apodrecido,
queima e seca a água do espírito,

mata a profecia por uma fala mastigada pela lepra
prefere coçar e fatiar a língua
que proferir a cura de curar e ser curada.

E assim continuo leprosa de espírito,
com meu cristianismo contaminado
de cacos de vidro,

sangue mofado que não dói mais,
pedaços do coração que não quero curar.


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Chuva de infinitos

Chove infinitos lá fora
enquanto os vazios se desesperam em se aquiescer
num sol que resfria e congela,

olhares grávidos de ganância
desesperados e com frio,

enquanto isso,
chovo em infinitos na palma da mão de Deus.


Arte ou matemática?

    Estava corrigindo os trabalhos de arte de meus alunos e como de praxe, os professores costumam comentar sobre o empenho dos discentes em sala. Foi muito interessante, pois havia um aluno que me chamava atenção pela facilidade em se expressar nas artes visuais. Porém, o mesmo havia obtido um péssimo resultado na prova de matemática:

_ Você conhece este aluno? então, ele não sabe fazer contas básicas, desatento e confuso. Qual futuro de um aluno assim? 

     Mas o  mesmo aluno tinha comigo, professora de artes, a seguinte análise:

_ Sim, conheço este aluno. Tem uma incrível capacidade em analisar os detalhes dos elementos formais nas artes visuais, dedicado e talentoso, sabe fazer relações entre as obras de arte de uma maneira muito singular. 

     Veredicto deste aluno? Mau aluno. Por quê? Pelo fato de ainda haverem hierarquias entre as disciplinas. Fiquei no vácuo, outros professores só pelo olhar me deram a mesma resposta da professora de matemática. 

    Enquanto a arte ainda estiver sendo desclassificada, ou quase que anulada entre os próprios professores que apresentam o peso do conhecimento, quem dirá uma sociedade? Claro que foi um caso bem pontual, mas que infelizmente se configura em muitos espaços escolares. 

      Força, professoras e professores de arte...