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Letrívoras

Projeto da Palavra Desenhada- produção e processos em escrita literária.
Resenhas, prosas, poesias e devocionais.
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Toda honra e glória a Deus. Venha o Teu Reino, volta logo, Jesus!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O amarelo do meu olhar

Nos olhos de Van Gogh encontro meu pai.

_ Pai, por que some tão distante da tela?

Se encontrasse a altura e profundidade que teu olhar sempre desejou alcançar, talvez compreendesse mais a imensidão que sua angústia pinta de amarelo.

Na sala da casa, uma réplica das telas de Van Gogh, em quebra cabeça. Nas texturas dos encaixes lá está os olhos do meu pai. Quem sabe eu tenha puxado teu olhar e por isso compulsivamente necessite ser amarela.  

Eu puxo teus olhos nos meus, sei que dói existir. Prefiro fechar, mas no amarelo do teu olhar fico incolor, tento mudar o calor desta matiz.

Hoje acordei amarela. Sei que há muita existência para pouca vida, e que hoje a tarde vou me desbotar, perder toda a força desta cor...

Uma vida é pouco para tantos olhos de Van Gogh. É curta pra tanta fome de amarelos que temos e tudo o que desejamos ser. Porque mesmo que sejamos, nunca seremos, a não ser que eu me entregue a quem definiu minhas cores.

Meu pai agora está nos olhos de Deus, ele deve estar pintando o céu. Enquanto no passado toda a angústia daquelas pinceladas sacrificavam seus olhos, agora descansa alimentado em amarelo.

           Será que puxei a cor do teu olhar? Pai, pinta meus olhos!