Até nossos vazios estão carregados de eternidades. Continuo a insistir nesse momento em que vivemos esfomeados de tempo, mas engolindo os tempos, deixando-nos na falta do tempo.
Há muitos momentos engolidos pelo vazio, e a lógica maligna
é nos tornar sem foco, desconcentrados e confusos. A dispersão tem nos tornado
seres superficiais, mas ainda assim, buscando a aparência de eternidade. Nunca
houve tantas eternidades instantâneas como hoje.
Lembro-me do meu professor de filosofia antiga da UFPR
falando que haverá um tempo em que não saberemos o que fazer com o mundo virtual.
Creio que este tempo já chegou, e ficamos dispersos, angustiados e cheios desta aparente realidade que além de não nos alimentar, nos faz desaprender a lidar
com o pouco de tempo que temos. Nossa complexidade não se encaixa nesta
aparência, o virtual não consegue nos alcançar, embora pareçamos sempre irmãos.
O discurso do ser no ter, a proposta e a aparência. Somos o
que parecemos, mesmo que com bons discursos. Entramos num momento em que todos
tem algo a dizer, tornamo-nos politicamente corretos, mas com uma essência
incoerente. Falamos de leituras, mas muitos mal leem. De amores, mas o que
importa é mostrar-se mais feliz que o outro. Satisfeitos pelo ser, mas apenas
se utilizando do discurso do ser, que por mais belo que seja não satisfaz o que
realmente somos.
É vento, palavras e distrações, somos engolidores de ventos,
mesmo que carregamos do discurso do ser.
As aparências estão carregadas de
eternidades que só satisfazem nosso instante. No próximo momento, uma nova
eternidade precisa ser construída, bem discursada, engolida. E assim
caminhamos, carregamos de aparentes e instantâneas eternidades.
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