Conheça os projetos da "Palavra Desenhada"

Letrívoras

Projeto da Palavra Desenhada- produção e processos em escrita literária.
Resenhas, prosas, poesias e devocionais.
Acompanhem! (desde janeiro.2015 até agora)
Toda honra e glória a Deus. Venha o Teu Reino, volta logo, Jesus!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O dono da risada plena

          Meu Jesus tem uma risada plena, escancarada. Se houve alguém neste mundo que soube rir, ou melhor, gargalhar, foi Jesus.

         Ele tem muito senso de humor, até porque não teve pecado algum. Um ser perfeito não é chato, e Jesus deve ter sido muito engraçado. Ele é até hoje, e será para sempre. Ele deve rir muito de nós, seus filhos.

         Penso em Jesus como aquele que é capaz de fazer cócegas na minha alma. Gosto tanto do que faço, e sinto meu Jesus se divertindo comigo, como enquanto escrevo, leio este texto, por exemplo.

        Jesus me deixa confusa com tantos presentes que Dele recebe, e Ele vê muita graça em mim. Jesus me acha engraçada, mas quem me dá graça sempre vai ser Ele.

       Jesus deve ficar me olhando e rindo quando estou estabanada, mas ele ri por amor, ao saber que no final tudo vai dar certo. Ele tem um jeito todo peculiar de me tratar, e me faz rir quando menos espero. Meu Jesus bonitão.

       Vejo Jesus com aquele riso largo e escancarado na santa ceia, bebendo um bom vinho com seus amigos e cheio de alegria nos olhos. Vejo Jesus olhando para todos na mesa e sentindo um imenso prazer em estar com eles. Tendo alegria nos amigos e na amizade.

      Creio também que os risos de Cristo se estendem nos sons gargalhantes dos nossos amigos. Tenho amigas e amigos que riem deliciosamente, e o som desta risada louva a Deus em várias nuances, desenhos percussivos de louvores ao pai em forma de gargalhadas.

      Jesus não devia deixar passar nada, claro que ele não pecou, mas ele deve ter zoado muito com Pedro, um discípulo que além de sanguíneo parece ter sido muito espalhafatoso. 

     Imagino Jesus e Pedro rindo depois de lembrarem de ter andado sobre as águas. _ vem pra água, Pedrão! Penso em Jesus rodopiando a criança no ar e brincando das formas mais variadas e divertidas com elas. 

      Vejo Jesus beijando Maria, abraçando forte José... tacando água na cara de João, seu discípulo amado e distraído. _ acorda, João!

       Sei que Jesus faz isto ainda hoje, mas infelizmente muitos perderam o senso de humor que há em Jesus. Crentes mau humorados que temos que suportar, creio que muitos de nós chegam às narinas do pai cheirando a pum! _ lá vem o cristão impeidável reclamar de novo!

      Cristianismo não é algo debochado, mas com certeza é a coisa mais divertida que um ser humano pode fazer. Cristianismo é vida, e vida em abundancia é muita risada, muita "tirada", "sacada" de humor...

      Pense nisto quando as coisas não parecerem tão boas, pense em como Jesus te vê, imagine-o rindo, gargalhando com toda a doçura e amor, apaixonado por você. Este é o nosso Jesus, ele é o dono da alegria, da gargalhada, da verdadeira diversão. 

     Risada plena, intensa, completa? Só com Jesus, fora Ele ninguém nos ensina ser feliz verdadeiramente. Somos exagerada e deliciosamente felizes. Um brinde a alegria que só pode ser encontrada em Cristo! 

        Um brinde a nosso Jesus gargalhante, te amo Jesus...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Oração pra ter vergonha na cara

Que o sangue de cristo escondido em minhas mãos
 manche  a minha alma a ponto de perceber o quanto sou assassina,

Que os gritos desesperados das crianças violentadas 
ecoem dentro do silencio das minhas orações egoístas,

Que o ritmo entediante das máquinas que os cristãos costuram as roupas que compramos
rasguem e desnudem as melodias de meus louvores narcisistas,

Que a fome de afeto das prostitutas me dê ânsia de vomito 
por minhas fomes tão superficiais 
e que as julgam como seres autônomos por escolherem esta vida,

Que a prisão dos doentes de alma, corpo e espírito aprisionem todas minhas prioridades 
que me deixam livres pra sempre escolher a mim mesma,


Que o meu evangelho pobre e raso me envergonhe diante da cruz 
e quebrantada grite e tome vergonha na cara 
para que a dignidade de cristo me torne digna de ser chamada cristã.


A visita

           Na primavera tinha torcido o pé, não pude ir à praia. Então fiquei na casa da minha tia, isto eu tinha entre 15 a 16 anos. Um vizinho novo, quer dizer, que havia chegado há pouco tempo na cidade, apareceu naquela manhã. 

         Tocou a campainha e fui atender. Nunca entendi aquele sorriso, até porque líderes religiosos podem preservar seus desejos mascarando-os com certas benevolências. São nestes aspectos tão subjetivos que qualquer reação objetiva pode te levar a infernos que apesar de te condenarem, são sempre disfarçadas de bondades.

E aquele padre parecia quase um santo, ajudava na paróquia e cuidava de assuntos de ordem emocional e espiritual. Também fazia trabalhos sociais e movimentava as beatas pra ajudar aos necessitados do bairro. E as beatas... há, estas sempre estavam virgens, mesmo que casadas. Traziam consigo uma aliança com o divino, materializado na figura daquele padre. 

         Mas naquela manhã, por mais tímida que parecesse, não tive como deixar de perceber o olhar daquele padre sobre mim. Havia na sala da casa da minha tia uma réplica destas pinturas renascentistas, representando a virgem Maria. Ele olhou para aquela tela, olhou para mim e sorriu:
_ Parece você, menina. Quem sabe tenha o chamado para ser freira. 

         Enquanto o padre me olhava, usava a santa como desculpa. A réplica estava com as pernas quase todas a mostra, assim como eu naquela manhã. Vestia um pijama curto, coisas de uma adolescente distraída que acabara de acordar. Sem preocupar-me com a roupa, não sabia que aquele sujeito viria naquela manhã visitar-me, quando já não havia mais ninguém na casa. 

Senti medo em estar com ele e a réplica desnuda da santa, que antes me trazia paz, mas agora dela me tornava cúmplice. Na dúvida, eu e ela é que seríamos culpadas. A imagem desnuda tornou-nos quase pornográficas, uma incitação para o olhar de aparente devoção que vinha do padre sobre nossas pernas e que conversava imageticamente com a tal santidade.

Constrangida, senti nojo e raiva, mas sem entender, também me veio a culpa. Hoje percebo que o sentimento de culpa foi em julgar a bondade do padre, seria o santo contra a réplica da santa, o santo contra a descabeçada com as pernas de fora. Raiva e nojo, por se uma adolescente condenada aos maus pensamentos. Novamente, a culpa viria sobre mim e até mesmo sobre a santa.

         O que me pareço, com virgem Maria? Aquela imagem era quase como se eu e ela estivéssemos numa vitrine. A santa não parecia tão santa _ quem é você pra julgar a benevolência de um padre que faz uma simples visita? A religião tecia em minha mente um emaranhado de dúvidas que com o tempo me deixariam ainda mais confusa. 

          A agressão persistiu pelo fato de que não pude argumentar nem me defender _ você e sua imaginação fértil. Só me restava o medo em estar com aquele sujeito salivante disfarçando sorrisos de bondade.

          Finalmente o inferno acabou e ele foi embora, saiu com aquele olhar bobo e pálido de santidade, de quem realizou uma boa ação. Fez uma prece que mais parecia outra coisa qualquer e antes de ir embora, olhou para as minhas pernas e para as da santa. Insistentemente sorriu:
_ Que benção poder conversar contigo, menina. Pense na oportunidade em ser freira, acho que contigo.

         Seres religiosos são quase sempre incontestáveis. Intocáveis, mas tocam nas intimidades alheias sem pedirem licença. E mesmo que algo fuja a tal postura de espiritualidade, até que se prove ao contrário, no máximo foi a maldade dos teus olhos.

          Depois que o padre foi embora chorei muito e quis rasgar a tela da santa. Naquele verão só usei calça comprida e não entrei mais naquela sala, fiquei desprotegida àquele cômodo incômodo.

       Eu e a santa? Mais uma vez sinto-me agredida. Até agora quando passo numa igreja ainda penso no olhar da virgem Maria com cristo bebezinho, suas pernas e seios desnudos conversando comigo. Era puro, até que houve esta tal visita.

      Se o termo virgindade é assim tão amplo como dizem, meus pensamentos perderam a pureza naquele instante. Não o diabo, mas a santa que me carregue com todo o peso desta lembrança... que ela me leve pra bem longe desta bondade indecente. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Ser no fazer

          As pessoas querem a felicidade. Mas o ser feliz atualmente está ligado a aparência; os "facebooks da vida" que nos digam.  

            A superficialidade do ter não alimenta o vazio espiritual do ser. Então precisamos mostrar uma alegria desesperada e extravagante, em que estamos rodeados por pessoas, com sorrisos angustiados para serem curtidos. Precisamos estar cheios das imagens de nós mesmos, fotos das viagens que comemos, das comidas que vimos, dos relacionamentos sérios ou nem tão sérios que engolimos e despejamos na cara "dos invejosos". 

         Desde que tudo esteja em exagero e sendo consumido sem moderação, está valendo para mostrar ao outro o que temos e o que este não tem; é a luta pela aparência da felicidade.

            Contraditoriamente a esta busca, dentre as profissões mais felizes, estão aqueles que ajudam ao outro, que se doam. Diferente do consumir, estes profissionais se entregam; em vez de mostrar, eles se possível, se escondem ou deixam que o outro apareça. 

          Por mais que queiramos ser felizes, enquanto o alimento desta alegria estiver no lugar errado, só teremos ainda mais fome. Que tenhamos a preocupação mais no ser que no fazer, mesmo que o ser seja a prática do fazer. Enquanto estou me doando e deixando o outro ser, eu também construo minha identidade. 

            Viva esta felicidade que não é comprada! Servindo e criando, sendo e cuidando um do outro!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Conselhos para cigarras e formigas

Não aprendemos a valorizar a arte, ou pelo menos no sentido prático da palavra. É bonito contemplar a imagem do artista em seu atelier, ou com seu instrumento musical, ao menos que isto gere lucro. E mesmo que lhe renda dinheiro, este valor precisa ter o peso do mercado, caso contrário não é trabalho. A formiga que o diga.

         Formigas vivem ensinando cigarras a viverem mais centradas, segundo o padrão do que se deve gerar a sociedade. Então a diversão aliada ao trabalho torna-se algo quase obsceno, alvo de inveja ou cobiça retraída, mas em alguns casos, de mera ignorância, porque nos ensinam que prazer e trabalho não se misturam.

       Pense na formiga trabalhando, ela passa horas para conseguir sua comida, um esforço que muitas vezes chega a fadiga. Visualize agora um arquétipo que valha pra qualquer artista, a cigarra; suas horas são de riso, aquele riso prazeroso e constante enquanto se diverte cantando e tocando.

     Inaceitável!? O prazer aliado ao trabalho é algo quase que proibido. Então a cigarra, por mais que se esforce, por este ser também prazeroso, acaba sendo desmerecido em relação a formiga.

Se pudesse dialogar com formigas e cigarras lhes diria o seguinte:

      Formiga, aproveite a beleza da cigarra, por mais que ela tenha esta aparência leve e prazerosa, não significa que não trabalhe ou que seu trabalho seja menos digno. Saiba que ela se esforça e enfrenta muitas dificuldades. Num duelo sociológico entre cigarras e formigas, a formiga sempre ganhou ao longo da história. Então, se a cigarra já está estigmatizada, não piore a situação dela. Você também pode ser uma cigarra retraída ou em parte cigarra. Volte a cantar e dançar como antes, quem sabe a raiva que tem da cigarra é saudades de si mesma no passado. Liberte os preconceitos pra ter ouvidos que escutem as melodias da cigarra. Esta música pode te curar e te levar a se alimentar deste som.

      Cigarra, aprenda com a formiga o hábito de trabalhar com o que recebeu como dom. Mas isso não significa que não possa em alguns momentos ser como a formiga e não se sinta mais privilegiada que ela só porque sabe cantar. Não inspire inveja ou cobiça alheia, cada um precisa desenvolver o que recebeu, com alegria e plenitude. Por mais que seja prazeroso, o seu canto é também um trabalho e te exige esforço concentrado. Não o desmereça como sendo qualquer coisa, pois se você se concentra tanto tempo com a arte que há em ti, ela a qualifica e se aperfeiçoa em você.

Quer seja formiga, quer seja cigarra, ou um pouco de cada, que saibamos o quem somos e o que temos. Mas sejamos nós mesmos, felizes e plenos, sem desprezar ou desmerecer ninguém.

Palavras de uma cigarra, mas que tem aprendido com formigas e cigarras bem resolvidas...