Conheça os projetos da "Palavra Desenhada"

Letrívoras

Projeto da Palavra Desenhada- produção e processos em escrita literária.
Resenhas, prosas, poesias e devocionais.
Acompanhem! (desde janeiro.2015 até agora)
Toda honra e glória a Deus. Venha o Teu Reino, volta logo, Jesus!

sexta-feira, 29 de março de 2013

O desenho da cruz


Quando eu desenho a cruz, vejo a imagem do ser humano.

O seu traço vertical, quando está para o alto, expressa o quanto eu desejo ser grande, 
mas quando este traço vertical caminha para baixo, revela o quanto sou pequeno.

Então em humildade volto a olhar pra esta verticalidade, e olhando para o alto,
desejo alcançar a Tua presença, 
mas para me aproximar da Tua altura, 
preciso mergulhar às tuas raízes, com os joelhos no chão. 

Então desenvolvo raízes na oração
e alcanço o alto da Tua cruz. 

O seu traço horizontal, quando está para a direita,
expressa o quanto desejo me relacionar com os outros, 
mas também revela o quanto sou egoísta em meus relacionamentos
e quanto o ser humano me dá motivos para ser odiado.

Mas a esquerda deste traço horizontal está Cristo,
dando-me as mãos, mostrando o quanto ele se entregou por mim
e o quanto ele me amou, mesmo quando dei motivos para ser odiado.

E é assim que eu aprendo, de mãos dadas com Cristo, 
o quando posso dar a minha vida pelo ser humano
e lhes dar motivos para serem amados.

Mas há nesta cruz um traço perpendicular
que penetra a minha alma e me alcança.

Que me tangencia nos pontos que mais quero esconder,
mas se nestes desencontros eu me entrego a esta cruz
eu me encontro Nela e me reencontro comigo!

Mesmo que eu aceite ou repudie, 
o traço que há nesta cruz tangencia meus maiores defeitos, angústias e carências, 
e é somente na cruz que eu posso resolver todas estas crises.

É melhor se render ao toque desta cruz, mesmo que doa, 
que tentar se esconder dela. 

Mas como se esconder ao toque perpendicular da cruz?
É melhor olhar para o alto? Mas lá no alto há a cruz....
É melhor olhar para baixo? Mas lá no fundo há a cruz...
É melhor olhar para os lados? Mas lá ainda estará a cruz...

A cruz vai estar em todos os lados,
não há lugar que eu possa me esconder dela.
É melhor deixar ser encontrado pela cruz
e assim, encontrar-se a si mesmo!

Texto- Juliana Bumbeer


ilustração- Juliana Bumbeer


quinta-feira, 14 de março de 2013

Conto premiado

Concurso de contos da "Ler e Cia", Livraria Curitiba, quarto lugar

O dedo do olhar de Clarice

Clarice acordou com seus sentidos aguçados, de tal forma que eles foram passeando por todo seu corpo. O que era visível se tornou audível e o que era comível se tornou tátil, de maneira que um tocava ao outro pelo seu próprio sentido. Como o toque é próprio do tátil, quando quem tocava era outro sentido, esse toque tomou uma dimensão diferente de se tocar. E seus olhos foram parar em seus dedos, era uma sensação nova de olhar com os dedos, e agora que sua visão chegou nessa extensão, reviveu descobertas que só em sonhos tinha tido. Compreender as coisas pelos sentidos é uma necessidade humana, mas descobri-lo como num composto químico é muito melhor: você descobre o sentido dos sentidos e ainda o sentido reagido com os outros. É como numa receita, como na arte gastronômica, em que os sentidos entram como ingredientes de tal forma que sua forma é um sentido novo de ser e de sentir o mundo que nos olha-toca. Olhar por dentro dessa toca, desse esconderijo que é um universo. 
Desses tipos de comidas, Clarice fazia várias e várias delas, até que um dia encontrou o seu ingrediente perfeito: um bolo feito de dedos e olhares que passavam pelo vão da porta do sótão, aquele que todos tememos entrar. Então só ficamos imaginando sua dimensão, mas não temos coragem de imaginá-lo assim tão de perto. 
Foi nesse momento que ela soube como criar histórias, essa cozinheira pelos sentidos tinha todos os elementos necessários para se fazer uma boa refeição de letrinhas. E as palavras passaram a vir no universo dos sentidos que se aguçavam no dedo do olhar de Clarice; ela passou a viver as palavras com sabor e toque, olhar e audição; era a melhor forma de criar historias porque ela tomavam todos os sentidos pra se entregar a realidade.
Dessa forma que ela aprendeu a cozinhar, e ao tocar com os olhos, olhava com sentido porque via as coisas por meio deles, e essas palavras que se escreviam pra contar anteriormente essa história na mente da escritora era palpável pelo tato; por ser assim, tomava significados diferentes e o sentido tátil era também direção. Ela era orientada pela sua própria criação, seus pratos tinham sentidos no sentido de sentir a direção das coisas que ela mesma construía. 
E tudo se misturou em Clarice, os sentidos nos seus pratos pelas letrinhas que se alimentava, os direcionamentos e a sua produção criativa; ela se tornou uma esfera que vai e mistura-se entre outros seres que sentem ou fazem pratos saborosos ou que escrevem, todos donos e direcionados pela sua própria criação, todos em círculos sem início ou fim e que pegam carona na esférica esfera de Clarice para ser como ela; assim, tudo gostosamente misturado e sair rodando por aí, tocando com os nossos dedos olhares. 
E agora que tudo está tão misturado não sei se sou esfera, se sou eu ou se Clarice, ou se você é que me fez contar essa história que nem mais sei se é minha, só sei que o prato está pronto: está servido?

autora- Juliana Bumbeer