Ele a viu gorda, acompanhada pelas ondulações que pulavam no vestido enquanto caminhava. Branca, despenteada e cheia de sobras. Feia, segundo sua compulsão pelo ser feminino. Mas não se sabe por que, as "sobras" da moça desengordurou o olhar do coração dele, antes entupido pelo padrão de beleza. Quase enfartou olhares entupidos de uma estética planejada, mas foi salvo por aquela moça. Ela e ele se desengorduraram, ela da decência planejada e feminista e ele da pornografia embaçada, siliconada e sofrida. E os dois se curaram com seus corações frágeis, distintos mas famintos de se conhecerem e se conheceram nos olhos um do outro. Estavam nus, e com toda liberdade não se envergonharam. Se encararam com a indecência de ser o que eram, e todas as inseguranças e medos ficaram maiores, nítidos e entregues um ao outro. Essa transparência trouxe paz e alegria, além de um desejo enorme de se consumirem e consumarem, sem medo de suas sobras.
Juliana Bumbeer.