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Letrívoras

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Jovem velho

O tempo parece que vai nos tornando mais complexos, quando muitas vezes estamos apenas carregados de nós mesmos.

Depois daquele momento em que passei dos trinta anos, enquanto já me sentia carregada de tantas experiencias, não dispensei sentimentos que deveriam ser esquecidos. Estas lembranças amarguradas foram jogadas para a dispensa de meus pensamentos, como se minha mente fosse cheia de compartimentos.

Sentia-me tão madura, quando na verdade estive acumulada de coisas, construí inclusive uma dispensa cheia delas e guardei todas esta bagagem para sempre relembrar. Lixo que deveria ser descartado. 

Fui parecendo mais prolixa, mas numa complexidade que é do adulto chato, que ao novamente se relacionar, abre sua dispensa e relembra das incertezas e inseguranças. Novamente se amargura e se fecha. 

Passei a descrever pessoas antecipadamente e a julgá-las com a perícia de alguém que já viveu muito e já aprendeu o suficiente com as perdas da vida.

Estive abarrotada de coisas, e assim, perdi a oportunidade de aprender novamente e quem sabe, conseguir me relacionar com mais intensidade. Até que esta falsa sensação de sabedoria me fez perceber o quanto tinha deixado de desfrutar de sentimentos pouco vividos ao lado de novas pessoas.

Enquanto eu parecia uma pessoa mais experiente, estive como muralha, tornando os outros incapazes de se aproximarem  de mim. 

Parecia mais sábia, quando na verdade carregava uma couraça de sabedorias prontas, como se esta aparente perspicácia me desse a capacidade de ter o meu próprio manual, justamente aquele que criei com o tempo.

Podia ter novamente me apaixonado, experimentado e vivido tanta coisa que só ficou no passado. Mas meu manual de "como saber lidar com pessoas" não me permitiu viver. Fiquei fechada, sentindo as coisas superficialmente, sem saber muitas vezes quem eu estaria me tornando hoje. 

Fiquei perdida, mas falsamente alicerçada às minhas antigas experiencias que me deram a impressão de sabedoria, perspicácia e complexidade na vida. E assim me tornei insuportável, até que tive a sorte de não me aguentar, de ser tão intragável para mim mesma que me matei! Decidi morrer intensamente para todas estas coisas pra reaprender a viver novamente.

Por isso houve uma esperança para mim, a da morte! Morri pra todas estas coisas e comecei a viver novamente. Vivi com mais simplicidade, menos exigências. Compreendendo que a dignidade está na honestidade em você ser livre o suficiente para não exigir tanto dos outros e de si mesmo. Decidi viver a vida sem expectativas antigas, sem aquela bagagem de quem já sabe muita coisa, antes que fosse tarde, antes que a minha bagagem pesasse tanto, a ponto de me desmoronar e ficar prostrada diante do meu peso existencial.

Uns acumulam faculdades, títulos de sei lá o quê. Outros, decepções amorosas e uma couraça contra os grandes e aparentes sentimentos. Há aqueles que acumulam coisas que julgam ser tão complexas quando na realidade são chatas o suficiente para não perder tempo aqui escrevendo; e por aí vai e se seguem os anos de nossas "experiencias".

Morra pra tudo isso e solte-se! Jogue o peso destes vazios para ser deliciosamente leve e novo para as oportunidades que se apresentam em nossa vida. Ser e sonhar com o que se constrói no agora, não naquilo que poderia ter sido, mas não é.


Juliana Bumbeer

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