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Letrívoras

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quinta-feira, 14 de março de 2013

Conto premiado

Concurso de contos da "Ler e Cia", Livraria Curitiba, quarto lugar

O dedo do olhar de Clarice

Clarice acordou com seus sentidos aguçados, de tal forma que eles foram passeando por todo seu corpo. O que era visível se tornou audível e o que era comível se tornou tátil, de maneira que um tocava ao outro pelo seu próprio sentido. Como o toque é próprio do tátil, quando quem tocava era outro sentido, esse toque tomou uma dimensão diferente de se tocar. E seus olhos foram parar em seus dedos, era uma sensação nova de olhar com os dedos, e agora que sua visão chegou nessa extensão, reviveu descobertas que só em sonhos tinha tido. Compreender as coisas pelos sentidos é uma necessidade humana, mas descobri-lo como num composto químico é muito melhor: você descobre o sentido dos sentidos e ainda o sentido reagido com os outros. É como numa receita, como na arte gastronômica, em que os sentidos entram como ingredientes de tal forma que sua forma é um sentido novo de ser e de sentir o mundo que nos olha-toca. Olhar por dentro dessa toca, desse esconderijo que é um universo. 
Desses tipos de comidas, Clarice fazia várias e várias delas, até que um dia encontrou o seu ingrediente perfeito: um bolo feito de dedos e olhares que passavam pelo vão da porta do sótão, aquele que todos tememos entrar. Então só ficamos imaginando sua dimensão, mas não temos coragem de imaginá-lo assim tão de perto. 
Foi nesse momento que ela soube como criar histórias, essa cozinheira pelos sentidos tinha todos os elementos necessários para se fazer uma boa refeição de letrinhas. E as palavras passaram a vir no universo dos sentidos que se aguçavam no dedo do olhar de Clarice; ela passou a viver as palavras com sabor e toque, olhar e audição; era a melhor forma de criar historias porque ela tomavam todos os sentidos pra se entregar a realidade.
Dessa forma que ela aprendeu a cozinhar, e ao tocar com os olhos, olhava com sentido porque via as coisas por meio deles, e essas palavras que se escreviam pra contar anteriormente essa história na mente da escritora era palpável pelo tato; por ser assim, tomava significados diferentes e o sentido tátil era também direção. Ela era orientada pela sua própria criação, seus pratos tinham sentidos no sentido de sentir a direção das coisas que ela mesma construía. 
E tudo se misturou em Clarice, os sentidos nos seus pratos pelas letrinhas que se alimentava, os direcionamentos e a sua produção criativa; ela se tornou uma esfera que vai e mistura-se entre outros seres que sentem ou fazem pratos saborosos ou que escrevem, todos donos e direcionados pela sua própria criação, todos em círculos sem início ou fim e que pegam carona na esférica esfera de Clarice para ser como ela; assim, tudo gostosamente misturado e sair rodando por aí, tocando com os nossos dedos olhares. 
E agora que tudo está tão misturado não sei se sou esfera, se sou eu ou se Clarice, ou se você é que me fez contar essa história que nem mais sei se é minha, só sei que o prato está pronto: está servido?

autora- Juliana Bumbeer

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